segunda-feira, novembro 19, 2007

Marias, sempre Marias!

É difícil achar espaços alternativos para se falar sobre a maternidade. Nesses noves meses de gestação, vivenciei diferentes espaços que envolvem gestantes, passando tanto por aqueles considerados mais conservadores como também os mais “alternativos”.
No entanto me decepcionou um pouco não ter encontrado nenhuma diferença substancial entre estes espaços, principalmente sobre a questão da mulher e do mito materno.
Frequentei lugares próprios para uma grávida, como hidroginásticas, consultórios médicos, lojas de enxoval. Nesses espaços, não esperava outra vivência senão a dos famosos clichês que vemos por aí. Pessoas não podem ver uma grávida que já nos enchem de expressões e perguntas: “Oh!!”; “Ahhh!!!”; “Que lindo!”, “Para quando é?”...
Não que toda essa demonstração de carinho e cuidado não seja importante. Ela expressa a preocupação e o cuidado que as pessoas sentem por uma fase que você está passando, o que seria ideal para qualquer outro momento de nossas vidas.
O problema é que esse tipo de cuidado, reservado para nós, reles mulheres, que de um dia para o outro deixamos de ser indivíduos comuns e passamos a ser “seres divinos geradores de vida”, vem cheio de outros significados e normalizações sobre como devemos no comportar e pensar esse novo ser. (e aqui não estou falando do bebê, se sim do novo ser “mãe”).
Junto com a alegria da vinda de um outro serzinho, vem também toda a herança da construção de gênero desigual e opressora que logo lhe impõem responsabilidades e modelos de condutas, muito próxima ao nosso tradicional exemplo de Amélia. Abdicação é a palavra chave dentro deste tipo de pensamento. O casamento então...quase um pré-suposto.
É incrível como ninguém, nem mesmo aqueles mais liberais, pergunta se você é casada ou namora com o pai da criança. Já chegam com um repertório de afirmações sobre seu “marido”ou seu “namorado”. E se eu for lésbica e tive uma produção independente, ou se, como várias outras mulheres, sou mãe solteira?
Sei que muitas vezes é um “ato falho”, como já me disseram. Mas o engano é muito mais do que um descuido, ele é significativo de como a maioria das questões sobre maternidade ainda carregam bastante do conservadorismo social.
E como disse no início, esse tipo de reação não é restrito apenas aos ciclos considerados antiquados ou conservadores, passa também por aqueles que pretendem trabalhar de maneira diferenciada com a maternidade, os brócolis!!
Para esses, a maternidade também é idealizada. Não tanto como a instituição que assegura as bases morais de uma sociedade, mas como a grande benção da natureza para os casais. Sim, aí também está a teoria dos “seres divinos”, onde tudo o que você pensa, fala ou faz tem uma repercussão de proporções inimagináveis no futuro da criança. Ou seja, saímos da tradição da família e passamos para o achismo esotérico. Ambos com igual oneração da mãe.
Ai de vc se comer uma coxinha ou tomar uma cerveja! Seu filho sofrerá eternamente por esse ato tão leviano! Trabalhar antes dos seis meses? Nunca! Seu filho precisará de vc integralmente as 24 horas do seu dia. Caso você seja relapsa e egoísta e resolva privar seu filho das mamadas noturnas, se prepare para todos os traumas da adolescência.....
Enfim, questões que ninguém questiona, nem mesmo as feministas ultra-radicais.
Junto com a alegria de ter um filho (que imagino ser uma experiência única), vem todo o estigma que a maternidade traz. Nos tornamos seres assexuados, sem vontades e vida fora da gravidez. Neste momento todas as nossas escolhas são questionadas, pois agora somos mães, veneradas e cobradas cruelmente por todos os nossos atos!

quinta-feira, novembro 15, 2007

Me inspirando em outros...

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Rio de Janeiro, 1951 in Novos Poemas (II)i
n Livro de Sonetos
in Poesia completa e prosa: "Poesia varia"

segunda-feira, novembro 05, 2007

O bailarino e a historiadora


"o nosso amor é tão bom
a fase que nunca combina
eu sou funcionário
ele é bailarina
quando caio morta ele empina

ou quando eu tchum no colchão
é quando ele tcham no cenário
viro calendário
voa purpurina

no ano dois mil e um
se juntar algum
eu peço licença
e a dançarina enfim
já meu jurou
que faz o show pra mim"

Gravura e texto de Didi Helene
retirada do site http://www.fotolog.com/crocomila/about