sábado, outubro 27, 2007

A Mulher Adúltera

"Acompanhava Marcel, eis tudo, contente em sentir que alguém precisava dela. Ele não lhe dava outra alegria não ser a de se saber necessária. Certamente não a amava. O amor, mesmo cheio de ódio, não tem esse rosto descontente. Mas qual é o rosto do amor? Amavam-se no meio da noite, sem se verem, tateando. Existiria outro amor que não o das trevas, um amor que gritasse em plena luz do dia? Não sabia, mas sabia que Marcel precisava dela, e que ela precisava desse precisar [...]"
Albert Camus, "A mulher adúltera", in: O Exílio e o Reino

Ausência

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."

Carlos Drummond de Andrade